A maior
ironia da vida é como as lembranças permanecem em nossa memória. As ruins
sempre perdem sua força conforme o tempo segue, mas as boas não. As boas
permanecem dando o mesmo frio na barriga como se estivessem frescas na memória,
independente do tempo que se passou. É irônico porque dizemos que os momentos
bons não serão esquecidos, como se tivéssemos escolha, quando na verdade não
serão esquecidos pela nossa própria natureza. Talvez então isso seja justamente
um boicote da vida contra ela mesma. Não aprendemos com as experiências boas,
elas são apenas consequências do que as ruins nos ensinaram. Sendo assim, como
tirar aprendizado de experiências já esquecidas ou amenizadas, enquanto as
boas, aquelas que nos levaram justamente ao erro, ainda se mantém latente na
memória?
É difícil
ser bom o tempo todo. É difícil porque quando a vida te soca a cara, a vontade
é socar de volta. É difícil porque certas pessoas e situações nos instigam
sempre a seguir pelo caminho errado. Aquele com lobo mal e falsos atalhos.
Aquele que toda mãe recomendaria nunca seguir. E seguimos porque a esperança de
que o caminho esteja diferente nos cega. A esperança de que o fim da estrada
traga o pote de ouro é irresistível demais para ser abandonada. E por mais que
aquele caminho já tenha sido percorrido inúmeras vezes e sempre tenha terminado
num enorme e inescalável muro de tijolos, a nossa memória fraca das
experiências ruins, faz com que pensemos que não fora tão ruim assim, e então a
dor de bater o nariz na parede mais uma vez dói como se tivesse sido a
primeira.
Não há
maior sensação de fracasso do que ver o mesmo erro sendo cometido outra, outra,
outra e outra vez. É vergonhoso, é triste, é deprimente e é humano. Mas quem
quer ser humano na hora da dor? Porque não se pode virar super herói enquanto a
vida bate forte? As verdadeiras grandes responsabilidades não são destinadas
aos super heróis, elas são jogadas em colos humanos sempre fadados ao fracasso,
ao erro, a vergonha de si mesmo e a todas as tentativas que esse mesmo se permitir.
Ser herói
é fácil, gozar de toda a glória da perfeição sem esforços não é o que eu
chamaria de responsabilidade. Difícil é ser humano, é nascer com inúmeros
defeitos e saber que se morre com muito mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário